quinta-feira, 11 de abril de 2013

Matemáticas


                Seguiu o corredor e, submerso nos seus pensamentos, abriu a sua porta. A paisagem era desoladora. A calamidade causadora não estava explícita, porém, uma certeza: tinha havido um duelo entre a aflição e a devastação. O quarto estava completamente destruído. Papeis espalhados pelo chão, alguns rasgados, outros queimados, a cómoda desaparecera, lâmpadas partidas em um milhão de cacos, o cheiro ardente ainda estava na atmosfera, o armário encontrava-se num ângulo de cerca de 20º graus entre a cama e a parede... Ah, a matemática até nestas alturas estava presente! Dirigiu-se à varanda e até o bonsai lho tinham levado. No seu rosto lia-se uma expressão de desilusão. Mais que raiva, tristeza ou uma mancha no seu bem-estar, era a desilusão que dominava a sua face. Então sentou-se no meio dos destroços, como um soldado faz após a guerra, e meditou no sucedido. «O que é que levaria alguém a fazer isto? Eu nem tenho inimigos. Acho eu. Bem, também não tenho amigos… Sou um ponto preto num quadro castanho, será por isso?», e assim continuou, mergulhado nas águas superficiais da sua mente durante algum tempo.
                Minutos depois ergueu-se da confusão que se instalara no encéfalo, qual estátua de um qualquer descobridor. Depois ergueu o resto do corpo, pegou na chave do quarto e foi dar uma volta, não para espairecer, mas para ir ter com uma pessoa.
                Chegado ao destino, foi ter com ela.
                - Acho que me assaltaram o quarto – disse o homem, fitando o rosto da amante.
                - Assaltaram-te o quarto?! – Inquiriu estupefacta, aproximando-se do homem – Como? E quem?
                - Não sei. Abri a porta e estava tudo confuso, parecia um cenário pós-apocalíptico. Tudo espalhado pelo chão, enfim, um caos – prosseguiu enquanto andava de maneira agitada de um lado para o outro – O pior é que não tenho ideia de quem possa ter feito uma coisa destas. 
                - Já ligaste à polícia? – Correu a ir buscar o telefone mas continuava a gritar – Temos de ligar à polícia!
                - Não. E acho melhor não o fazer, não posso esquecer aquilo da última vez.

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